Pé Torto Congênito
O pé torto congênito é uma deformidade ortopédica presente desde o nascimento, em que o pé do bebê está virado para dentro e para baixo, rígido e com alterações estruturais em ossos, músculos, tendões e ligamentos. Essa condição não se corrige sozinha e, sem tratamento, pode causar dificuldades para caminhar, dor, limitações funcionais e alterações no crescimento dos pés.
O Método Ponseti é considerado o padrão-ouro para o tratamento do pé torto congênito, permitindo corrigir a deformidade de forma progressiva, segura e minimamente invasiva. Com ele, o objetivo é obter um pé funcional, flexível, alinhado e que permita à criança caminhar, correr e brincar normalmente.
Diagnóstico e indicação
O diagnóstico pode ocorrer ainda durante a gestação, por meio do ultrassom morfológico, geralmente entre a 20ª e 24ª semana, quando é possível perceber o desvio dos pés. Após o nascimento, a confirmação é feita por exame físico detalhado, realizado pelo pediatra ou ortopedista pediátrico, que avalia a posição, rigidez, mobilidade e alinhamento dos pés.
O diagnóstico é evidente pelo conjunto de quatro alterações estruturais:
- Cavo: arco plantar mais acentuado, fazendo o pé parecer “encurvado”.
- Aduto: desvio da parte da frente do pé para dentro.
- Varo: calcanhar virado para dentro.
- Equino: pé apontando para baixo, sem apoio do calcanhar.
O tratamento deve ser iniciado nas primeiras semanas de vida, quando os tecidos ainda são maleáveis, aumentando as chances de sucesso. É indicado para todos os casos de pé torto congênito, incluindo os bilaterais, e seu início precoce reduz a necessidade de cirurgias extensas e garante melhores resultados a longo prazo.
Como funciona o tratamento
O Método Ponseti é realizado em três fases:
- Fase do gesso corretivo
- O ortopedista realiza manipulações suaves e precisas do pé, posicionando-o gradualmente na posição correta.
- Um gesso especial é colocado desde a coxa até os dedos, mantendo a posição correta.
- O gesso é trocado semanalmente, geralmente de 4 a 6 vezes, podendo variar conforme a gravidade ou condições associadas, como artrogripose.
2. Tenotomia do tendão de Aquiles
- Um pequeno procedimento necessário em muitos casos para alongar o tendão e permitir que o calcanhar encoste no chão.
- Realizado com anestesia local, seguro e rápido, podendo ocorrer no consultório ou centro cirúrgico.
- Após a tenotomia, é colocado um último gesso por cerca de 3 semanas.
3. Fase da órtese (manutenção)
- Uso de órtese de abdução (sapatinhos ligados por barra metálica) para manter a correção e evitar recidiva.
- Primeiros 3 meses: uso por 23 horas/dia.
- Após esse período: uso reduzido para 14 horas/dia, principalmente durante o sono, até cerca de 4 anos.
- A adesão correta é essencial para o sucesso do tratamento.
O que a família pode fazer
- Preparação: compreender a importância do tratamento, garantir que o bebê seja avaliado logo nas primeiras semanas de vida e planejar os deslocamentos semanais para troca de gesso.
- Durante o tratamento: manter o uso correto da órtese, cuidar da pele do bebê, acompanhar sinais de irritação ou desconforto e seguir rigorosamente as orientações do ortopedista.
- Cuidados pós-tenotomia: manter o gesso limpo e seco, monitorar a cicatrização, observar movimentos normais do bebê e garantir retorno às consultas.
- Acompanhamento: visitas regulares ao ortopedista pediátrico são fundamentais para ajustar o aparelho, monitorar crescimento e desenvolvimento do pé, além de avaliar a marcha da criança ao longo dos anos.
O sucesso do tratamento depende de três pilares: diagnóstico precoce, aplicação correta do Método Ponseti e acompanhamento contínuo. Quando todos esses elementos estão presentes, o pé torto congênito pode ser totalmente corrigido, permitindo que a criança tenha pés funcionais, caminhando e brincando normalmente, sem limitações futuras.