A marcha na ponta dos pés (também chamada de marcha em equino) é uma situação relativamente comum na infância, mas que nem sempre deve ser encarada como algo normal. Entender suas causas, sinais de alerta e possibilidades de tratamento é fundamental para que os pais possam agir no momento certo e garantir o desenvolvimento saudável da criança.
O que é a marcha na ponta dos pés?
A marcha na ponta dos pés acontece quando a criança caminha sem apoiar os calcanhares no chão, mantendo os pés constantemente elevados, como se estivesse de salto. Em bebês que estão aprendendo a andar, isso pode ser apenas uma fase do desenvolvimento motor, geralmente transitória e sem maiores consequências.
No entanto, quando persiste após os 2 anos de idade, ou quando é muito frequente, pode indicar desde um hábito postural até alterações musculares, neurológicas ou sensoriais.
Algumas causas possíveis:
- Marcha em equino idiopática: quando não há outro diagnóstico associado, sendo apenas um padrão de marcha adquirido.
- Encurtamento do tendão de Aquiles ou da musculatura da panturrilha.
- Paralisia cerebral: especialmente em crianças com espasticidade, em que os músculos ficam mais rígidos.
- Distúrbios sensoriais: como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), em que a criança pode preferir a ponta dos pés por questões sensoriais.
- Síndromes neurológicas ou genéticas associadas a atraso motor.
Estudos mostram que até 5% das crianças saudáveis podem apresentar marcha idiopática na ponta dos pés em algum momento, mas em boa parte delas o quadro melhora espontaneamente.
Nem todo caso exige tratamento imediato, mas existem sinais que indicam a necessidade de avaliação médica:
- A marcha na ponta dos pés persiste além dos 2 anos de idade.
- O hábito acontece na maioria do tempo e não apenas em brincadeiras ocasionais.
- Presença de rigidez nos pés ou dificuldade para apoiar os calcanhares.
- Calosidades ou deformidades nos pés devido ao padrão de apoio.
- Dificuldade em atividades motoras: correr, subir escadas ou manter o equilíbrio.
- Associação com atraso no desenvolvimento, alterações neurológicas ou comportamentais.
Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, maiores as chances de um tratamento eficaz e de evitar complicações a longo prazo.
Como funciona o tratamento?
O tratamento depende da causa e do grau da alteração. Ele pode variar desde simples observação até intervenções cirúrgicas, passando por recursos de fisioterapia e órteses.
1. Observação e acompanhamento
Nos casos leves e idiopáticos, pode-se apenas acompanhar a evolução. Muitos quadros melhoram espontaneamente, especialmente quando não há encurtamento muscular.
2. Fisioterapia e terapia ocupacional
A fisioterapia é um dos pilares do tratamento, com foco em:
- Alongamento da musculatura da panturrilha e do tendão de Aquiles.
- Fortalecimento de músculos estabilizadores.
- Treino de marcha para estimular o apoio correto dos pés.
3. Órteses e palmilhas
O uso de órteses (como as AFOs – órteses tornozelo-pé) pode ajudar a manter o pé em posição neutra, facilitando o contato do calcanhar com o solo. Palmilhas especiais também podem ser recomendadas.
4. Gessos seriados
Quando o encurtamento é mais importante, o médico pode indicar gessos trocados semanalmente para promover alongamento progressivo.
5. Medicamentos injetáveis para reduzir a rigidez muscular
Em situações em que a marcha na ponta dos pés está associada à espasticidade, como na paralisia cerebral, pode ser indicado o uso de medicamentos injetáveis que relaxam temporariamente os músculos da panturrilha. Essa abordagem ajuda a reduzir a rigidez, melhora a mobilidade e potencializa os resultados de fisioterapia e alongamentos, facilitando a reabilitação da criança.
6. Cirurgia
Indicada quando há encurtamento fixo do tendão de Aquiles e os métodos conservadores não trazem resultados. A cirurgia consiste no alongamento do tendão, seguida por um período de imobilização com gesso e reabilitação com fisioterapia e órteses.
O sucesso do tratamento vai muito além da conduta médica. O envolvimento da família é determinante para a evolução da criança:
- Observar: anotar quando e em quais situações a criança anda mais na ponta dos pés.
- Estimular: propor atividades que incentivem o apoio completo dos pés no chão.
- Seguir orientações: usar corretamente órteses, palmilhas ou gessos conforme indicado.
- Acompanhar fisioterapia: manter regularidade nas sessões e exercícios de casa.
- Esclarecer dúvidas: manter um canal aberto de comunicação com o ortopedista.
Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a grande maioria das crianças consegue corrigir a marcha e levar uma vida normal, sem limitações para brincar, correr ou praticar esportes.
Nos casos em que há doenças neurológicas associadas, o processo pode ser mais longo e desafiador, mas ainda assim o acompanhamento multiprofissional traz ganhos importantes em mobilidade e conforto.
A marcha na ponta dos pés pode ser apenas uma fase transitória, mas também pode sinalizar alterações que merecem atenção. O olhar atento dos pais e a avaliação de um ortopedista pediátrico são fundamentais para diferenciar cada situação. Quanto antes o quadro for identificado, maiores são as chances de garantir um desenvolvimento motor saudável e uma infância cheia de movimento.
Se você percebeu que seu filho anda frequentemente na ponta dos pés, não hesite em procurar avaliação especializada. O acompanhamento certo faz toda a diferença no futuro da criança.