29/10/2025

Marcha na ponta dos pés: quando procurar um ortopedista pediátrico

Receber a notícia de que seu filho pode ter uma alteração na forma de andar desperta muitas dúvidas e inseguranças. Será que é apenas uma fase? Existe algum problema mais sério por trás?

A marcha na ponta dos pés (também chamada de marcha em equino) é uma situação relativamente comum na infância, mas que nem sempre deve ser encarada como algo normal. Entender suas causas, sinais de alerta e possibilidades de tratamento é fundamental para que os pais possam agir no momento certo e garantir o desenvolvimento saudável da criança.

O que é a marcha na ponta dos pés?

A marcha na ponta dos pés acontece quando a criança caminha sem apoiar os calcanhares no chão, mantendo os pés constantemente elevados, como se estivesse de salto. Em bebês que estão aprendendo a andar, isso pode ser apenas uma fase do desenvolvimento motor, geralmente transitória e sem maiores consequências.

No entanto, quando persiste após os 2 anos de idade, ou quando é muito frequente, pode indicar desde um hábito postural até alterações musculares, neurológicas ou sensoriais.

Algumas causas possíveis:

  • Marcha em equino idiopática: quando não há outro diagnóstico associado, sendo apenas um padrão de marcha adquirido.
  • Encurtamento do tendão de Aquiles ou da musculatura da panturrilha.
  • Paralisia cerebral: especialmente em crianças com espasticidade, em que os músculos ficam mais rígidos.
  • Distúrbios sensoriais: como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), em que a criança pode preferir a ponta dos pés por questões sensoriais.
  • Síndromes neurológicas ou genéticas associadas a atraso motor.

Estudos mostram que até 5% das crianças saudáveis podem apresentar marcha idiopática na ponta dos pés em algum momento, mas em boa parte delas o quadro melhora espontaneamente.

Nem todo caso exige tratamento imediato, mas existem sinais que indicam a necessidade de avaliação médica:

  • A marcha na ponta dos pés persiste além dos 2 anos de idade.
  • O hábito acontece na maioria do tempo e não apenas em brincadeiras ocasionais.
  • Presença de rigidez nos pés ou dificuldade para apoiar os calcanhares.
  • Calosidades ou deformidades nos pés devido ao padrão de apoio.
  • Dificuldade em atividades motoras: correr, subir escadas ou manter o equilíbrio.
  • Associação com atraso no desenvolvimento, alterações neurológicas ou comportamentais.

Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, maiores as chances de um tratamento eficaz e de evitar complicações a longo prazo.

Como funciona o tratamento?

O tratamento depende da causa e do grau da alteração. Ele pode variar desde simples observação até intervenções cirúrgicas, passando por recursos de fisioterapia e órteses.

1. Observação e acompanhamento

Nos casos leves e idiopáticos, pode-se apenas acompanhar a evolução. Muitos quadros melhoram espontaneamente, especialmente quando não há encurtamento muscular.

2. Fisioterapia e terapia ocupacional

A fisioterapia é um dos pilares do tratamento, com foco em:

  • Alongamento da musculatura da panturrilha e do tendão de Aquiles.
  • Fortalecimento de músculos estabilizadores.
  • Treino de marcha para estimular o apoio correto dos pés.

3. Órteses e palmilhas

O uso de órteses (como as AFOs – órteses tornozelo-pé) pode ajudar a manter o pé em posição neutra, facilitando o contato do calcanhar com o solo. Palmilhas especiais também podem ser recomendadas.

4. Gessos seriados

Quando o encurtamento é mais importante, o médico pode indicar gessos trocados semanalmente para promover alongamento progressivo.

5. Medicamentos injetáveis para reduzir a rigidez muscular

Em situações em que a marcha na ponta dos pés está associada à espasticidade, como na paralisia cerebral, pode ser indicado o uso de medicamentos injetáveis que relaxam temporariamente os músculos da panturrilha. Essa abordagem ajuda a reduzir a rigidez, melhora a mobilidade e potencializa os resultados de fisioterapia e alongamentos, facilitando a reabilitação da criança.

6. Cirurgia

Indicada quando há encurtamento fixo do tendão de Aquiles e os métodos conservadores não trazem resultados. A cirurgia consiste no alongamento do tendão, seguida por um período de imobilização com gesso e reabilitação com fisioterapia e órteses.

O sucesso do tratamento vai muito além da conduta médica. O envolvimento da família é determinante para a evolução da criança:

  • Observar: anotar quando e em quais situações a criança anda mais na ponta dos pés.
  • Estimular: propor atividades que incentivem o apoio completo dos pés no chão.
  • Seguir orientações: usar corretamente órteses, palmilhas ou gessos conforme indicado.
  • Acompanhar fisioterapia: manter regularidade nas sessões e exercícios de casa.
  • Esclarecer dúvidas: manter um canal aberto de comunicação com o ortopedista.

Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a grande maioria das crianças consegue corrigir a marcha e levar uma vida normal, sem limitações para brincar, correr ou praticar esportes.

Nos casos em que há doenças neurológicas associadas, o processo pode ser mais longo e desafiador, mas ainda assim o acompanhamento multiprofissional traz ganhos importantes em mobilidade e conforto.

A marcha na ponta dos pés pode ser apenas uma fase transitória, mas também pode sinalizar alterações que merecem atenção. O olhar atento dos pais e a avaliação de um ortopedista pediátrico são fundamentais para diferenciar cada situação. Quanto antes o quadro for identificado, maiores são as chances de garantir um desenvolvimento motor saudável e uma infância cheia de movimento.

Se você percebeu que seu filho anda frequentemente na ponta dos pés, não hesite em procurar avaliação especializada. O acompanhamento certo faz toda a diferença no futuro da criança.