29/10/2025

Pé torto congênito: como funciona o diagnóstico e quais são as opções de tratamento?

Descubra como identificar o pé torto congênito, quais são os sinais de alerta e os tratamentos mais eficazes para garantir o desenvolvimento saudável dos pés do seu filho.

Receber o diagnóstico de uma condição de saúde no bebê, seja ainda na gestação ou logo após o nascimento, costuma trazer uma mistura de sentimentos: medo, dúvida, ansiedade e uma busca imediata por respostas. O pé torto congênito (PTC) é um desses diagnósticos que podem surpreender muitas famílias. Embora o nome assuste em um primeiro momento, a boa notícia é que existe tratamento eficaz, reconhecido internacionalmente, que garante à criança pés funcionais e uma vida ativa.

O que é o pé torto congênito?

O pé torto congênito (PTC) é uma malformação ortopédica que está presente desde o nascimento e afeta estruturas importantes como ossos, músculos, tendões e ligamentos. Essa alteração faz com que o pé assuma uma posição anormal: geralmente voltado para baixo (equino), para dentro (varo) e com a frente do pé desviada (aduto), além de apresentar um arco plantar acentuado (cavo).

Essa combinação de quatro alterações estruturais torna o diagnóstico bastante característico logo ao nascimento. Diferente de um pé “apenas tortinho” por estar mal posicionado na barriga da mãe, o PTC é uma deformidade rígida, que não se corrige espontaneamente.

  • Ocorre em aproximadamente 1 a cada 1.000 nascidos vivos.
  • É duas vezes mais comum em meninos.
  • Pode afetar apenas um pé (forma unilateral), mas em até 50% dos casos compromete os dois pés (forma bilateral).
  • Em alguns casos, está associado a síndromes genéticas ou a outras condições neurológicas, como mielomeningocele ou artrogripose, o que torna o tratamento mais desafiador.

Quando é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do pé torto congênito pode acontecer em dois momentos diferentes. Durante a gestação, o ultrassom morfológico, realizado entre a 20ª e a 24ª semana, pode levantar a suspeita da deformidade ao mostrar a posição anormal dos pés do bebê. No entanto, é importante lembrar que esse exame não é definitivo, já que algumas limitações técnicas podem gerar falsos positivos.

A confirmação do diagnóstico acontece mesmo após o nascimento, por meio de um exame físico simples e cuidadoso. O ortopedista pediátrico avalia a rigidez do pé e observa os componentes característicos do PTC, conhecidos como cavo, aduto, varo e equino. Esses sinais tornam o diagnóstico bastante evidente, dispensando a necessidade de exames de imagem, como raio-X ou ultrassom adicional.

Como funciona o tratamento?

O tratamento deve ser iniciado precocemente, de preferência nas primeiras semanas de vida, quando os tecidos do bebê ainda são maleáveis e respondem melhor à correção.

Na maioria dos casos, o método de Ponseti é considerado o padrão-ouro em todo o mundo, com excelentes resultados funcionais e duradouros. Desenvolvido pelo ortopedista espanhol Ignacio Ponseti, o método utiliza técnicas minimamente invasivas, evitando cirurgias agressivas e oferecendo uma correção eficaz.

É importante destacar, porém, que quando o pé torto congênito está associado a condições neurológicas ou sindrômicas, como mielomeningocele ou artrogripose, a abordagem pode ser diferente. Nessas situações, o tratamento exige um olhar individualizado, levando em conta as particularidades de cada criança, o grau de rigidez do pé e as demais necessidades clínicas.

De forma geral, as etapas principais do tratamento pelo método de Ponseti são:

Fase corretiva com gessos seriados

O tratamento se inicia com a fase corretiva, em que o ortopedista realiza manipulações suaves no pé do bebê, posicionando-o progressivamente na forma adequada. Após cada manobra, é colocado um gesso que vai da coxa até os dedinhos, sendo trocado semanalmente para permitir novos ajustes. Geralmente, de quatro a seis trocas são suficientes, mas esse número pode variar conforme a gravidade do caso.

Tenotomia do tendão de Aquiles

Na maioria dos pacientes, mais de 80% dos casos, é necessário realizar a tenotomia do tendão de Aquiles. Trata-se de um procedimento simples, feito com anestesia local, em consultório ou centro cirúrgico, que consiste em um pequeno corte no tendão para permitir que o calcanhar encoste corretamente no chão. O bebê costuma se recuperar rapidamente, podendo mamar e retornar para casa no mesmo dia. Após a tenotomia, é colocado um último gesso, que permanece por aproximadamente três semanas.

Uso da órtese de abdução (fase de manutenção)

Depois da retirada do último gesso, inicia-se a fase de manutenção com o uso da órtese de abdução, também conhecida como órtese de Ponseti ou “botinha de pé torto”. Ela é composta por dois sapatinhos unidos por uma barra metálica, que mantém os pés na posição corrigida. Nos três primeiros meses, deve ser utilizada por 23 horas ao dia e, em seguida, apenas durante o sono, até pelo menos os quatro anos de idade. Essa etapa é fundamental para evitar recidivas, já que, sem o uso adequado da órtese, o pé pode voltar a entortar.

Acompanhamento a longo prazo

Após a fase de correção inicial, o acompanhamento contínuo com o ortopedista pediátrico é essencial para garantir que o pé cresça de forma adequada e mantenha os resultados conquistados. Nesse processo, o médico avalia a adaptação da criança, realiza os ajustes necessários na órtese e observa atentamente possíveis sinais de recidiva. Com esse protocolo bem conduzido, mais de 95% dos casos de pé torto congênito isolado podem ser corrigidos com sucesso, sem a necessidade de cirurgias extensas.

O envolvimento da família é determinante para o sucesso do tratamento. Algumas orientações importantes:

  • Durante o gesso: manter o gesso sempre seco, observar a pele do bebê e seguir rigorosamente as orientações médicas.
  • Na fase da órtese: compreender que a disciplina é fundamental. O uso parcial ou irregular da órtese é a principal causa de recidiva.
  • Na comunicação com o médico: anotar dúvidas, relatar dificuldades e manter um canal aberto de confiança.
  • Apoio emocional: é comum que os pais se sintam inseguros no início, mas entender cada etapa e ver os avanços do bebê ajuda a fortalecer o processo.

O pé torto congênito é uma condição que, quando diagnosticada precocemente e tratada de forma adequada, tem excelente prognóstico. Crianças submetidas ao método de Ponseti podem caminhar, correr, praticar esportes e levar uma vida sem limitações.

Cada bebê, no entanto, é único. Por isso, o acompanhamento com um ortopedista pediátrico especializado é indispensável. Com informação, tratamento adequado e dedicação da família, o diagnóstico inicial deixa de ser motivo de medo e passa a ser o primeiro passo para um futuro cheio de movimento e qualidade de vida.